[ODISEO.COM]

De Marco Antonio de la Parra. Dirección: André Carreira. 6 de marzo al 17 de abril

Entrevistas a André Carreira, Amalia Kassai, Juan Lepore, Milena Moraes. Imágenes del espectáculo

Sinopsis

De Marco Antonio de la Parra
 
Con
Amalia Kassai, en Bremen, Alemania
Juan Lepore, en Buenos Aires
Milena Moraes, en Florianópolis
 
Fotos: Otten Severonoe
Asistente: Mercedes Kreser
 
Dirección: André Carreira
 
Una coproducción del CELCIT con Experiência Subterrânea (Brasil), con el apoyo de Iberescena
 


Duración: 65 minutos

 

Ulises viaja constantemente movido por sus tareas como ejecutivo de una empresa internacional. No puede o no logra volver a Laura, su esposa, que lo espera en Barcelona. En Florianópolis, Elisa, su amante, también lo requiere. La vida entonces se organiza a través de Skype, Whatsapp, Twitter y Facebook. La vida sigue, ¿pero es la misma vida?
 
[ODISEO.COM] es un espectáculo que propone una experiencia teatral utilizando la tecnología digital de comunicación interpersonal y se propone poner en discusión estas prácticas mediadas de relacionarse. 
 
Es realizado en tiempo real en tres espacios simultáneos, en tres ciudades: Bremen (Alemania), Buenos Aires y Florianópolis. 
 
 
 
[ODISEO.COM] es el viaje sin cesar, maldito como todos los triunfadores, de un joven gerente de una multinacional de terminal en terminal de Skype comunicándose con los amores de su vida, su mujer perdida en Barcelona, su amante rodando de escenario en escenario, también maldita por el éxito del que habita aeropuertos, hoteles, gasolineras, supermercados, limusinas. Las palabras los juntan y los sepultan, tienen apenas encuentros de fines de semana, días que se pierden en el baile de imágenes de la red. No conocen ni la paz ni la quietud, ni siquiera el reloj, adictos al jet lag, golpeando el mouse o la pantalla con denuedo esperando sentir alguna vez un remedo del cara a cara verdadero, piel a piel, ese imposible simulado y quizás perdido para siempre en el vértigo informático.
Marco Antonio de la Parra

[ODISEO.COM] es un proyecto en colaboración que nació a partir del deseo de trabajar con el actor Juan Lepore. Pero, viviendo en ciudades tan distantes como Buenos Aires y Florianópolis, no encontramos otra alternativa que la comunicación por Internet. Se asociaron a este desafío el autor Marco Antonio de La Parra y las actrices Milena Moraes y Amalia Kassai. Aunque nuestro proyecto no fue estructurado por el deseo de hacer teatro por Internet o por la búsqueda del contrapunto de los actores con imágenes virtuales, la consecuencia fue que exploramos las posibilidades y dificultades de una escena mediada. De esta forma experimentamos con un espectáculo que propone discutir la tecnología digital de comunicación interpersonal cuestionando las prácticas mediadas de relacionamiento. Nos hemos acostumbrado a creer que las redes sociales y las plataformas de comunicación pueden sustituir los contactos personales. Sin embargo, me parece necesario preguntarnos sobre las dimensiones del simulacro para averiguar hasta dónde esos instrumentos pueden contribuir a los vínculos y hasta qué punto no son más que instrumentos que nos mantienen lejos de las personas, justamente, porque nos dan la sensación de cercanía.
André Carreira

 

CELCIT. Temporada 2014-2015

Notas y críticas

Odiseo.com

A disputa de presenças e o lugar do teatro

Quando escreveu a peça A voz humana (1929), o francês Jean Cocteau rebatia quem o acusasse de instrumentalizar seus textos com “estruturas maquinais”. Pois acabara de testar uma pegada mais essencial com um monólogo. Num quarto desarrumado, uma mulher aguarda a ligação telefônica do amante que recém a abandonou. Coube ao dispositivo mediar a oralidade, a escuta, os silêncios e o sentimento amoroso em pedaços. Virou sua obra mais montada ao redor do planeta. Oito décadas depois, Odiseo.com sugere que o músculo da voz expandiu para o corpo inteiro e vaga pela rede mundial de computadores materializando os rearranjos amorosos sob os mesmos intangíveis mistérios da paixão.

O espetáculo conjuga outros formatos de relação e de percepção da arte a partir de ferramentas velozmente incorporadas na pele e na alma de quem vive nas cidades médias urbanas. O edifício teatral, o palco, a plateia, a coxia, os refletores, enfim, essas convenções inexistem por aqui. São as alteridades da comunicação e a discussão da qualidade de atenção (leia-se presença) nos relacionamentos, em todos os níveis, que atraem para a arena dessa navegação antiespetacular, geradora de experiências virtual e presencial imersivas graças à tessitura dramatúrgica para lá de expandida e convicta das janelas que a palavra abre por si mesma.

O código mais assimilável talvez seja o do clássico mote da triangulação dos amantes (ele e ela) e da mulher dele. Três situações combinam planos ficcionais captados por webcam em tempo real (também subvertido lá pelas tantas) e cujas ações transcorrem em três distintos lugares. Ao cabo, a conexão por Skype é pulsão desse sistema cênico-tecnológico que opera sobre os afetos através da imagem e da fala.

Em Itajaí, vinte espectadores roçam os ombros um no outro, bem instalados, para acompanhar, na sala de um sobrado, no bairro São Judas, a intimidade à distância entre a cantora Elisa, amante brasileira que faz dali sua casa, na atuação de Milena Moraes, e o executivo argentino Ulises, hospedado em algum hotel dessas cadeias globais, talvez em Pequim, na atuação do ator Juan Lepore, que também abriga um pequeno público em sua casa, em Buenos Aires.

A terceira figura a pontuar essa história é Laura, de quem se saberá pouco, mas com a qual ele é casado e divida o mesmo teto na capital argentina, sob atuação da chilena Amalia Kassai, moradora em Bremen, na Alemanha.  

Cohabitantes desse percurso, os espectadores brasileiros e argentinos não têm diferença no fuso horário. Já o relógio local alemão está adiantado cinco horas. Porém, a participação de Laura se dá apenas no ambiente virtual, isenta de contracenar ao vivo com a audiência ao lado.

A observação crítica aportada desde o olho a olho com Milena Moraes constata como ela sustenta o campo da intimidade sem esmorecer, tendo por testemunhos 20 pares de olhos e ouvidos colados proximamente à atuação. Estamos entre quatro paredes e é como se ela de fato se encontrasse sozinha, desnuda em tesão e apaixonada por Ulises. Está a anos-luz da paciente Penélope da mitologia grega, assim como o trabalho escrito em colaboração pelo chileno Marco Antonio de La Parra e dirigido por André Carreira não leva ao pé da letra o mito retratado na Odisseia, preferindo tomar apenas como pretexto a jornada do herói viajante que retarda sua volta a Ítaca em função das aventuras e obstáculos enfrentados no caminho, levando sua mulher a esperá-lo por anos.

Apesar do aparato que a cerca e das infiltrações performativas – ao conectar o cabo do notebook ao televisor de tela plana ou regular o volume à maneira do contrarregra –, Milena reflete agudamente os conflitos de Elisa preservando a instância do dramático. Estirada no sofá-cama, deslocando-se até a cozinha ou ao banheiro, subindo as escadas para tomar banho no que se presume a suíte (em muitas cenas a atriz está oculta), atendendo sua mãe ao celular, o fato é que o público sente sua presença permanentemente, ausculta seu coração.

Ressalva-se que as sincronias não resultam virtuosísticas; pausas e vazios preenchem igualmente.

As reações de Elisa ao discurso titubeante de Ulises na webcan tornam a presença dele na tela igualmente poderosa nos jogos eróticos, nos rompantes, nas solidões. Ele tem dois filhos e não para em casa, vive nas nuvens, viajando a negócio. Ela é mãe de uma filha, está em processo de separação e nutre expectativa de que Ulises também deixe Laura. A introdução desta na narrativa causa uma guinada temporal e os diálogos desviam para o campo da memória. Do mesmo modo, as mutações dos figurinos de Elisa e Ulises – nomes que se tocam –, da nudez às roupas sociais que os devolverão às ruas, também são indícios de que o real é construído enquanto o tempo das falas e lembranças pode se mover em direções outras.

Entre as interfaces que desdobra, Odiseo.com oferece uma experiência limítrofe da representação em flerte deliberado com conceitos da instalação e da performance. Nada de novo com as desterritorializações e experimentos de fronteiras. Chega a ser prosaico o modus operandi dominado pela maioria da assistência que depende da banda larga ou fibra óptica, ao sabor da precariedade dos serviços de telecomunicação. Em vez do rasgo tecnológico, sobrepõe-se a valorização do ator. Não há a mínima possibilidade de se tropeçar em fios soltos neste emaranhado digital, carnal e desejante disposto de forma clara e pungente, a ponto de não perturbar a vigília ou o sono do “Jazz”, o cão do dono do sobrado anfitrião, deitado ao pé dos espectadores durante toda a sessão. A parceria do Grupo Teatral (E)xperiência Subterrânea, de Florianópolis, com o Centro Latinoamericano de Creación e Investigación Teatral, da Argentina, ora ganha ares de trama de telenovela, pela familiaridade temática, ora atalha com a tensão dos filmes de John Cassavetes. É o teatro defendendo seu lugar na disputa de presenças.

Valmir Santos. IV Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha. 12/08/2015


Odiseo.com

En el anonimato del mundo cibernético las historias de Odiseo.com que tiene a Marco Antonio de la Parra como autor, se entrecruzan traspasando las fronteras del mapa político: Chile, Argentina y Brasil se unifican en una de las salas teatrales del subsuelo del CELCIT para dar vida a una historia centralizada en las nuevas formas de comunicación y sus impersonales relaciones. Skype, teléfonos celulares, video-llamadas son la materia prima de la dramaturgia de Odiseo.com.

Existen muchos interrogantes acerca de la llamada cuestión Homérica, pero si algo es cierto es que “La Odisea” es un poema épico compuesto aproximadamente en el siglo VIII a.C. atribuido al griego Homero en el que se narra la vuelta de Ulises desde Troya hasta Ítaca. No es casual que el protagonista de Odiseo.com se llame Ulises, ya que enfrentará tal como su alter-ego innumerables problemas antes de la vuelta a casa. Ulises porteño es un gerente de una empresa multinacional que tiene a varias mujeres desparramadas por el mundo y se comunica a través de un click virtual alejado del contacto piel a piel. Su esposa, su amante, reclamos, el tiempo que corre impunemente, jet lag y sexo conforman la propuesta digital con dirección de André Carreira que puede verse todos los viernes en el CELCIT.

Explorando los pro y los contras de una escena mediada por la tecnología el resultado es felizmente una nueva forma teatral que señala la liminalidad de eso que llamamos teatro. En “La Odisea” de Homero, la esposa de “Ulises” llamada “Penelope” es aún en la actualidad un símbolo de fidelidad: esperó durante veinte años el regreso de su marido de la guerra de Troya tejiendo un sudario. En Odiseo.com todo parece indicar que la distancia virtual tiene sus costos y lleva a interpelar al espectador acerca de la posibilidad de construir un vínculo por fuera del espacio real poniendo en duda la validez del mismo. Novedosa propuesta, escenografía funcional, ítems digitales y buenas actuaciones hacen de Odiseo.com una de las innovadoras piezas teatrales en la actualidad.

Julieta Messer. Spectavi. 07/04/2015


"Odiseo.com" incorpora la tecnología al teatro

La obra performática desarrollada en tiempo real con tres actores, cada uno trabajando en simultáneo desde una ciudad, Santiago de Chile, Buenos Aires y Florianópolis, visita la comunicación en tiempos de redes, y según el protagonista argentino Juan Lepore puede definirse como, “una forma de experimentar a la distancia que permite al público transformarse en espía de una realidad que no debería presenciar”.

La posibilidad de que el mismo texto sea actuado al unísono en diferentes lugares puede extender los límites de la palabra desafío para ser aplicados a una puesta teatral y ya desde su origen está atravesada por la lógica 2.0 y obliga a mencionar el lugar de residencia de los participantes en la misma.

Escrita por el dramaturgo y psiquiatra chileno Antonio de La Parra y dirigida por André Carreira -vive en la ciudad brasileña de Florianópolis-, surgió a partir de la gestión cotidiana del Celcit donde se relacionan "mucho y todo el tiempo con gente de Iberoamérica a través de las redes, usamos estas herramientas, un día en 2011 se me ocurrió que sería viable armar un espectáculo y pedimos a De La Parra, un amigo de la casa que gusta de la tecnología. que la escribiera", contó Lepore en charla con Télam.

"Cumplimos el sueño -continuó- de trabajar con gente que está lejos, por ejemplo la actriz chilena (Amalia Kassai) ahora está en Berlín, mientras que a la brasileña Milena Moraes no la conozco personalmente e igual contamos la historia de los tres personajes quienes se van relacionando en diferentes momentos, yo trabajo desde un espacio teatral, pero los otros dos son departamentos, con baño, cocina y las cosas de una casa".

El cuento se centra en el día a día de la vida de Ulises, un ejecutivo viajero de una empresa internacional, cuyos vaivenes sentimentales oscilan entre Laura, su esposa residente en Barcelona y su amante de Florianópolis, más las demandas de ambas mujeres a las que intenta responder a través de skype, whatsapp, twitter y facebook.

El soporte técnico de la trama se construye a través de un poderoso servicio de banda ancha, i pads conectados a una televisión de 50 pulgadas bien integrada a la escenografía, con presencia justificada desde la dramaturgia y, "en el equipo hay una asistente que coordina las llamadas entre los tres, realiza una suerte de coreografía llamadas, entre bambalinas escuchas todo", destacó el protagonista.

La descripción de una anécdota intenta dar cuenta de los sentimientos de Lepore en relación a la pieza, "suelo recordar -apuntó- las palabras de una nieta a su abuela con quien hablaba por computadora: 'te toco, pero no te siento', si pensamos que el 93% de la comunicación humana es no verbal y este factor no está presente, se complica, pero nosotros aceptamos que la comunicación es imperfecta y puede cortarse y entonces hay que saltar de escena".

La dirección de “Odiseo.com” implica para el actor, prácticamente, "una dirección de fotografía capaz de cambiar según donde ubicamos el ipad, entre las marcaciones del director podés escuchar: 'quiero que en este momento te acerques tanto al aparato que sólo podamos ver tu boca o tu ojo', son las decisiones del director, el público sólo ve un recorte que los actores vamos haciendo", detalló Lepore, formado por el fallecido teatrista Juan Carlos Gené y Carlos Ianni, hoy al frente del Celcit.

Durante 65 minutos la experiencia dramática compite contra su naturaleza de hecho vivo para trasladar su dinámica a la comunicación mediada, sin perder de vista el hecho teatral, anzuelo que puede resultar seductor desde lo visual y narrativo, para acercar a los espectadores más jóvenes.

"Mi base y mi fuerte están en los maestros Gené y Ianni, ellos me enseñaron que los personajes son lo que hacen, tratamos de no juzgarlos, no importa si están colgados en un trapecio o dónde, Gené decia que el estado del teatro es en tiempo presente y con público", concluyó.

Las funciones se realizan los viernes a las 20 en Moreno 431 de la ciudad de Buenos Aires.

. Telam. 09/03/2015


Odiseo.com. O espetáculo multimídia

Resumo: O espetáculo multimídia Odiseu.com constitui-se em nova investida sobre o semovente território das novas ficções. Três cidades da América Latina sediam a realização, interconectadas via web, produzindo um novo périplo para Ulisses e sua cambiante libido que não sabe aonde vai chegar.

Três smartphones, plugados permanentemente no whatsapp, no twitter e no skype, essa é a rede em que se emaranha o novo Odisseu criado por Marco Antonio de la Parra. Santiago do Chile, Buenos Aires e Florianópolis são as três cidades – interconectadas via web – onde se desenrola uma ficção que se recusa a aceitar esse nome. Poderiam ser outros os lugares, poderiam ser outras as criaturas, poderiam ser outros os espectadores, mas nada aqui é garantia de ser algo mais que um pretexto para arregimentar cansados interessados em histórias&enredos&trânsitos com vagas referências ao teatro.

Entre nós, Marco Antonio de La Parra é conhecido através da montagem de A secreta obscenidade de cada dia, por Antonio Abujamra (1988). Mas esse psiquiatra chileno nascido em 1952 possui extensa obra dramatúrgica e literária, aclamado e premiado em diversos países, dedicando-se a explorar temas associados ao período da ditadura, da memória e história do país e, sobretudo, dos conflitos existenciais de sua classe média, como em Infieles (1988), El continente negro (1994), Monogamia (2000) e Suchi (2003). Odiseo.com nasceu de uma colaboração entre ele e o encenador André Carreira, cujas primeiras incursões cênicas foram realizadas no metrô de Buenos Aires nos anos de 1980, sem que o público soubesse que se tratava de teatro. Há, portanto, na trajetória de ambos, inúmeras congruências e interesses, tais como a referência ao real, o imaginário das classes médias, o poder das imagens e, nesse caso especificamente, as novas mídias. Espetáculo nascido através da rede mundial, Odiseu.com assinala uma dessas felizes realizações que interligam artistas diversos em países diversos operando em regime de colaboração.

Da Odisseia, restou uma vaga baforada: o incansável viajante pulando de continente em continente. Em seu rastro, duas mulheres – a esposa no Chile e a amante no Brasil – equitativamente divididas com uma colega de trabalho que, vez por outra, o acompanha em seu périplo mundial. Ele mesmo, nunca está em lugar algum, embora onipresente em todos através da nuvem, presença/ausência viabilizada pelo voip.

Recebi a mensagem via Facebook para estar a tantas horas no endereço tal e não me atrasar, pois os equipamentos de segurança do edifício seriam automaticamente bloqueados em seguida. Lá fui eu. Junto a outras quinze pessoas, formamos o público da sessão, no exíguo espaço de um apartamento de terceiro andar em Florianópolis. Uma mulher bonita liga o skype e, através da enorme tela da TV, vemos um homem nu acordar em Buenos Aires. Tentam certo jogo de sedução erótica, mas ele está atrasado e, após vestir-se, começa a fazer as malas para seguir viagem. Dali para frente, seis ou sete novas ligações serão realizadas entre as criaturas. Ele parece ser o novo Odisseu. Ela parece resumir Circe e Polifeno. Parecem.

No ciberespaço nunca se pode ter certeza de nada. É esse limite inconsistente a zona wi-fi onde nos metemos, por uma hora, junto àquelas criaturas, intermediadas pelas imagens e vozes, que remetem a algo, mas tão imponderável que duvidamos que efetivamente esteja ocorrendo. A ficção tem algum limite? Estou mesmo ali ou apenas fui teletransportado pela matrix, em mais um jogo de RPG que insiste em me fazer atirar em alguma das figuras que surgem à minha frente?

Me inquieto na cadeira, a mulher foi tomar banho e a sala fica vazia por um momento. Em 1956 o Living Theatre também havia convidado poucos espectadores para realizar uma das mais significativas encenações do século XX, The Connection, no exíguo apartamento do casal Julian Beck e Judith Malina, onde um filme sobre drogas supostamente era rodado. Os espectadores ficavam nauseados, a menos de vinte centímetros de um rapaz que, efetivamente, injetava heroína na veia. Aqui, Milena Moraes refaz esse mesmo jogo hiper-real, cujo desafio maior é ignorar nossa presença a seu lado. Mesmo quando se masturba diante da tela e é correspondida, em Buenos Aires, por Juan Lepore, num desempenho erótico que todos fazemos mas, em geral, no âmbito restrito da privacidade. As mulheres presentes se incomodam, mexem-se nas cadeiras. Os homens são mais impassíveis, talvez mais habituados aos sites de sexo explícito, mas nem assim indiferentes aos gestos frictícios dos dois performers.

Odiseo.com carrega numa das mãos a surpresa como fator de instigação, ou seja, a colocação em cena de uma situação à maneira pensada pelos situacionistas, uma reaparição de vida energizando o fluxo congelado de imagens do cotidiano. Na outra mão, uma proposta relacional, derivada daquela vontade de reconfigurar a convivência no âmbito das metrópoles do planeta. Micro e macro, próximo e distante, real e digital agitam jogos e fricções diversas, oferecendo aos espectadores um mergulho nas sensações.

Há drama, mas esgarçado, esfiapado, estiolado pela excessiva presença de telemáquinas. Tudo é autenticamente real, mas para projetar no imaginário mais que si mesmo, para saturá-lo em outra dimensão, talvez como alegoria, talvez como oximoro.

As criaturas surgem fechadas sobre si, hipostasiadas numa ética personalíssima e autorreferente, cujos limites não ultrapassam seu pequeno e breve prazer, sua cota de felicidade esgotada e apequenada pela ausência de qualquer ambição. Estão conectadas à nuvem, presenças cujas ausências se anunciam pelo toque de chamada para mais uma conversa que, mesmo diante de todas as expectativas, não leva a nada. A cada contato sobrevém um vazio, a cada interlocução, o prazer parece deslizar entre os dedos, perder-se em sua imaterialidade. Procurando um psicanalista para remediar seu progressivo desconsolo, Elisa ultrapassa a barreira e a ele se entrega pondo fim à análise de si; Ulisses, em permanente trânsito, não tem tempo sequer de amargurar-se com a traição confessada pela esposa, grávida de uma recorrente crise conjugal que a conduziu aos braços de outro. O circuito parece não ter fim – novas chamadas, novas criaturas, novos elos da rede se articulando ao infinito.

No Brasil, o público acompanha a última conversa entre os amantes: Elisa declara que não é uma Penélope para enfrentar uma interminável espera pelo outro, seguida de seus últimos gestos de saída para ir almoçar com a mãe. Ela não vê, assim, o que ocorre em Buenos Aires, onde o público local foi acomodado num ambiente de hotel executivo construído para abrigar Ulises, bem como a residência do casal em Santiago, de onde a performer Amalia Kassai faz uma única intervenção via skype. Supostamente, também os demais devem sair para as nuvens.

Odiseo.com constrói uma política de privacidade muito peculiar: todos podem ver tudo, mas ninguém pode fazer nada. “A simulação por computador permite que uma pessoa explore modelos mais complexos e em maior número do que se estivesse reduzida aos recursos de sua imagística mental e de sua memória de curto prazo, mesmo se reforçadas por este auxiliar por demais estático que é o papel. A simulação, portanto, não remete a qualquer pretensa irrealidade do saber ou da relação com o mundo, mas antes a um aumento dos poderes da imaginação e da intuição. Da mesma forma, o tempo real talvez anuncie o fim da história, mas não o fim dos tempos, nem a anulação do devir. Em vez de uma catástrofe cultural, poderíamos ler nele um retorno ao kairós dos sofistas”, adverte Pierre Lévy em suas conjecturas sobre o ciberespaço.

Uma tensão, portanto, entre uma experiência presencial e outra virtual, constitui o cerne de nosso espetáculo, meticulosamente pensado enquanto produção de sensações para suas plateias. O hiper-real contraposto ao hiper digital produz refrações, desloca sentidos, faz girar o imaginário, obtendo sua cota de não substância, anti aristotelicamente falando. Por isso, é sofista. É nessa acepção que Odiseu.com conjura, diante de todas suas ambiguidades, o sabido e o por saber, o dito pelo não dito, o feito pelo a realizar, trunfo maior de uma encenação que apostou no improvável.

Dela saímos menos certos do que entramos.

Referências bibliográfica:
BOURRIAUD, Nicolas. Arte relacional. São Paulo. Martins Fontes: 2013.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. São Paulo. Editora 34, 2010, p. 127.
Edelcio Mostaço, pesquisador do CNPq, é doutor, professor da graduação e da pós-graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC.

Edelcio Mostaço. Questao de critica. 22/12/2014


La tecnología se incorpora a la dramaturgia

Skype de por medio - La obra de Marco Antonio de la Parra utiliza videollamadas.
Una impersonal habitación de hotel, una cama, un frigobar, una televisión plana, rastros de una cena. Un iPad y el celular serán las herramientas que conectan a Ulises –un ejecutivo de una empresa que por motivos laborales viaja por diferentes ciudades sin tener un lugar fijo en el cual sentar cabeza–, con su amante Elisa, una cantante brasileña que vive en Florianópolis, y su esposa chilena, Laura. 
El público se congregará alrededor de ese espacio y durante un poco más de una hora espiará la intimidad de Ulises. Skype de por medio, en la pantalla del televisor, participará de las videollamadas entre los personajes, ubicados geográficamente en esas ciudades. 
Odiseo.com, del autor chileno Marco Antonio de la Parra, es una experiencia teatral diferente, que se apropia de la tecnología, la incorpora a la dramaturgia y la utiliza como un medio y punto de reflexión. Pero también es un proyecto de colaboración donde tres actores interactúan virtualmente a través de estas herramientas rompiendo las barreras y ampliando el espacio escénico. 
Juan Lepore es quien actúa en vivo para el público ubicado en Buenos Aires, mientras que Amalia Kassai, en Santiago de Chile, y Milena Moraes, en Florianópolis, aparecerán virtualmente. Tanto Kassai como Moraes, mujeres enamoradas que viven frente a la incertidumbre de la correspondencia de ese amor, logran personajes que pasan de la euforia a la tristeza y muestran su femineidad a pleno. El Ulises de Lepore, por su parte, está exacerbado, con rasgos violentos que lo convierten en un personaje que no genera ninguna empatía en el público.
Como propuesta, Odiseo.com es interesante y se suma a otras que usan la tecnología en el teatro –este año pudo verse La realidad, de Denise Desperyroux, que incorpora la comunicación virtual a través de Skype.
En una obra en donde la tecnología es una protagonista más, la producción es clave para evitar fallas. En este caso, todo funciona perfectamente, sin dejar lugar al error. Sin embargo, la dramaturgia es tan real que es imposible pensarla en términos teatrales, transforma al público en voyeurs de este momento de crisis de los personajes y en espectadores pasivos. 

Ricardo Sarmiento. Tiempo Argentino. 03/11/2014


Odiseo.com

Esta innovadora obra nos cuenta la historia de tres personajes particulares tan comunes a nuestros tiempos,  donde su relación mezclada con la tecnología trae la tormenta al creerse estar cerca cuando en realidad están lejos, mostrándonos que la distancia aunque se crea cercana, por el hecho de poder verse, es lejana porque nada puede reemplazar la interacción humana real y directa. Donde apuestan a sentimientos lejanos para no comprometerse convirtiéndolo en sentimientos virtuales. 
 
En esta oportunidad el dramaturgo y psicoanalista Marco Antonio de la Parra desarrolla una excelente obra con una visión real y cruda sobre las nuevas experiencias humanas ante el manejo de las herramientas informáticas. 
 
En un hotel de Buenos Aires se encuentra Ulises, un joven ejecutivo argentino que trabaja para una empresa multinacional, este es un puesto estresante y demandante que lo obliga a estar constantemente de viaje y estar alejado de sus compromisos sentimentales. Este personaje egocéntrico, irascible y autodestructivo está muy bien logrado por Juan Lepore, un actor que se muestra seguro, logrando un personaje creíble. Maneja los tiempos de manera brillante, logrando llevar al escenario emociones explosivas adecuadas a este exigente papel. 
 
Desde Brasil en la ciudad de Florianópolis se encuentra el personaje de Elisa, una exitosa cantante, que reclama un compromiso más real a Ulises, esta bella mujer es eufórica y como tal sube y baja en sus emociones sin escalas. Este papel es interpretado por Milena Moraes, esta actriz logra un muy buen papel al interpretar a una persona demasiada amiga del alcohol y las pastillas, manipulando a Ulises con su temperamento explosivo. 
 
Por último aparece Laura quien está ubicada en la ciudad de Santiago de Chile, ella es la esposa de Ulises, una mujer joven que espera algo que sabe que nunca va a pasar, tiene miedo de enfrentar la verdad de una relación sin compromiso con falta de tiempo para construir proyectos familiares. Esta interpretación hecha por la actriz Amalia Kassai está bien construida, representando a muchas mujeres que en situaciones similares prefieren no ver para perdonar y seguir esperando,  aunque sepan que nada va a cambiar. 
 
Lo novedoso de la obra es utilizar las herramientas tecnológicas (Pantalla Led para poder ver las comunicaciones con las demás protagonistas, la utilización de Skype, etc.) para contarnos una historia que sucede en tres ciudades diferentes simultáneamente y en tiempo real. La sala simula una habitación de hotel bien equipado para desarrollar lo que transcurre y que el espectador sentado alrededor de esta pueda experimentar como si fuera un reality. 

Rosario Rossi Belmonte. Cultura del Ser. 29/10/2014


Odiseo: una versión contemporánea en tres países

El dramaturgo y psiquiatra Marco Antonio de la Parra sorprende nuevamente con una innovadora y notable obra teatral. Es una de sus últimas creaciones: Odiseo.com, inspirada en el antiguo mito de Odiseo pero actualizado con modernas tecnologías y formas de relación. Esta versión contemporánea de un relato clásico usa Internet y recursos audiovisuales para conectar tres países diferentes (Argentina, Chile y Brasil) utilizando conversaciones en vivo y creando una performance original.
El diseño del espacio crea una sensación de intimidad y soledad. Al entrar desde el hall antes de que la obra comience, el público tiene que elegir en qué lado del escenario quiere sentarse. Aunque hay tres posibilidades diferentes, de cualquiera de ellas podrá ver a los personajes y comprender perfectamente la situación en una gran pantalla de TV que muestra la interacción entre ellos. Recreando un cuarto de hotel en el que prevalece la paleta blanca y negra, el refinamiento y simplicidad del set contrasta con el estado mental turbulento del protagonista.
Juan Lepore -actuando desde Argentina- encarna a Odiseo. En vez de hacerlo a la manera clásica -como un héroe trágico- esta versión nos muestra un Odiseo que va cayendo debido a la común sobre-comunicación de su época. Más aún, Lepore encarna a un adicto al trabajo que viaja constantemente y nunca está con su mujer, Penélope, y su hijo. Durmiendo en su cama de hotel completamente desnudo, Odiseo se despierta entre llamadas de teléfono y video.
Milena Moraes encarna a Elisa, la hermosa y deseada amante que, en esta versión, vive en Brasil y viaja alrededor del mundo cantando. Actuando desde Florianópolis, Moraes constantemente interactúa con Odiseo a través de video llamadas. También hay público en su cuarto, mirando la misma obra en Brasil pero desde un punto de vista diferente. En este caso, Odiseo.com se ve desde el lado opuesto, con el protagonista apareciendo en la pantalla de televisión -por medio de video llamadas- y Elisa es el personaje con quien la audiencia comparte la experiencia.
Amalia Kassai encarna a Penélope, la esposa de Odiseo. Actuando desde Chile, Kassai recorre Santiago mostrando partes de la ciudad y llamando por video a su marido. Ella y Elisa, reclaman constantemente su atención y su retorno a casa. Mentalmente alterado, Odiseo trata de balancear su carrera con su esposa, hijo y amante pero en vez de lograr un equilibrio, termina en una situación desordenada y dañina.
Dirigida por André Carreira, esta performance teatral y audiovisual mezcla lenguajes artísticos, reuniéndolos en una original propuesta. La versión de De la Parra de Odiseo hace que el público contemporáneo pueda relacionarse con la trágica historia de amor clásica, porque toca temas como la infidelidad, la pasión y la insatisfacción.

Carolina Nogueira. Buenos Aires Herald. 24/10/2014


Alienación y relaciones en tiempos de Skype

Para los consumidores de teatro, adictos o light, Buenos Aires mantiene una oferta que sobrepasa largamente lo que el cuerpo puede aguantar. Más allá del teatro generalmente vinculado con figuras de trascendencia televisiva, la variedad y cantidad de propuestas que ofrece lo que se podría llamar, para mantener un término tradicional, el teatro independiente, es formidable.
Odiseo.com, en el Centro Latinoamericano de Creación e Investigación Teatral (Moreno 431) es una muestra de esto.
Para hablar de Odiseo.com, de Marco Antonio de la Parra, dirigida por André Carreira y actuada por Amalia Kassai, Juan Lepore y Milena Moraes, hay que hablar de una habitación de hotel tipo cinco estrellas. Al fondo una pantalla de LCD. En la cama duerme un hombre. Los espectadores, en fila de uno, se alinean contra la pared de la habitación. El hombre despierta porque en la tablet que tiene junto a la almohada suena una llamada, que introducirá al espectador en una historia de triángulo, intermediada por Skype.
Se supone que Amalia Kassai está en Santiago de Chile y Milena Moraes en Florianópolis, Brasil, y se relacionan con el único actor “de cuerpo presente” en Buenos Aires, Juan Lepore. No es ingenuo el “se supone”. Puestos a confiar cotidianamente en los celulares, los videos por correo electrónico y todo eso, ¿por qué el espectador tiene que creer que las actrices no están en el cuarto de al lado? El Skype que se usa en la obra no tartamudea imágenes como suele sucederle a cualquier mortal. Al fin, es una cuestión de fe aceptar que están donde dicen que están, y es la parte que le toca poner al que mira.
Tampoco hablar “del que mira” es casual. Todo espectador es un mirón. Y esa característica se pone al rojo casi vivo en Odiseo.com, que propone un Ulises argentino –con una esposa en Chile y una amante en Brasil– con un trabajo ejecutivo que lo tiene siempre viajando. Skype, como los sms, y similares, se incorporaron a la vida privada despojándola de la privacidad. De cualquier manera, el que se comunica, el que habla, el que se exhibe para su interlocutor, actúa como si estuviera solo, por ejemplo, en una habitación de hotel. De allí que el espectador, enfilado contra la pared, con su propio reflejo en el uso de esos mismos medios, se siente incómodo: está espiando la vida privada de otros. Podemos imaginar que en algún momento se sonroja pensando qué dirían otros de verlo en sus momentos íntimos ante una pantalla. La historia base de Odiseo.com es tan normal como la mayoría de las historias de mortales. Una esposa en Santiago, una amante en Florianópolis, y la convicción de que se tiene todo bajo control porque Skype acorta las distancias. Error. Se puede compartir hasta cierta forma del sexo. La actriz allá, en la pantalla de plasma, masturbándose, el actor acá, a pocos pasos, acompañándola. Pero, lo que parece cercanía es distancia, una distancia inalcanzable, que pone de manifiesto que la fragmentación no tolera parches. Porque, al fin, no se puede disputar el poder a distancia, y esta es una historia de juegos de poder, en que las dos mujeres pugnan por ser el único amo, y el sexo, o un embarazo, son herramientas de dominio sobre el hombre que cree tener controlada la pelota.
¿Teatro por Skype? Si la vida es cambio y movimiento, ¿por qué no se va a mover el teatro? Para cerrar, cabe un axioma que se podría atribuir a Confucio: Un hombre con dos mujeres es un perro con demasiados dueños. Con o sin Skype.

Raúl Argemí. Miradas al Sur. 19/10/2014


Novo espetáculo estrelado pela atriz Mile Moraes une profissionais de três países

[Odiseo.com] tem pré-estreia no próximo domingo e será encenado simultaneamente em Florianópolis, Buenos Aires e Santiago do Chile
 
Depois de viver uma peculiar dançarina em cenários pouco usuais no espetáculo “Kassandra”, encenando pela última vez no mês de agosto, a atriz Milena Moraes volta ao que não podemos chamar de palco em mais uma montagem que passa longe do teatro tradicional. A convite do diretor André Carreira, ela encarna, durante todos os domingos do mês de outubro, a cantora Elisa no espetáculo "[Odiseo.com]", encenado simultaneamente nas cidades de Florianópolis, Buenos Aires e Santiago do Chile. Dessa vez, o cenário, que vai incluir uma plateia limitada a apenas 15 pessoas, será um apartamento residencial. 
 
A peça surgiu do interesse de Carreira e do ator argentino Juan Lepore em trabalhar juntos, mesmo vivendo em cidades tão distantes. Para torná-lo realidade uniram-se a eles o dramaturgo chileno Marco Antonio de la Parra, que escreveu o texto especialmente para o projeto, a atriz Amalia Kassai, também chilena, e a própria Milena. O resultado é uma coprodução entre o grupo brasileiro (E)xperiência Subterrânea e o Celcit (Centro Latinoamericano de Creación e Investigación Teatral), da Argentina, com o apoio do Iberescena (Fondo de Ayudas para las Artes Escénicas Iberoamericanas). 
 
A trama de "[Odiseo.com]" acompanha os dilemas de Ulises, um executivo bem sucedido de uma empresa multinacional aprisionado em seu próprio êxito. O excesso de trabalho e as viagens que precisa fazer para diversos países fazem com que ele não consiga voltar para sua casa, no Chile, onde vive a mulher Laura. Instalado em um hotel durante mais um compromisso corporativo, Ulises conversa por Skype com a amante Elisa, que mora em Florianópolis. Toda a interação entre os dois em tempo real é acompanhada pelo público, que, segundo Milena, torna-se voyeur dessa relação.
 
“O espetáculo funciona como um falso monólogo. Aqui, em pessoa, será somente eu. Em Buenos Aires apenas o Juan, e em Santiago só a Amalia, embora minha personagem não interaja com ela”, explica Milena, que não conhece pessoalmente nenhum dos atores.
 
Relação virtual 
 
Embora o projeto não tenha partido necessariamente do desejo de fazer teatro pela internet ou pela busca do contraponto dos atores com imagens virtuais, essa foi a forma encontrada para que todos pudessem trabalhar juntos no mesmo espetáculo. Assim, eles acabaram explorando as possibilidades e dificuldades de uma cena mediada. “Passou-se a acreditar que as redes sociais e as plataformas de comunicação podem substituir os contatos pessoais, mas me parece necessário que nos perguntemos até onde esses instrumentos podem contribuir com os vínculos e até que ponto apenas nos mantém distante das pessoas justamente porque nos dão a sensação de proximidade”, teoriza o diretor André Carreira.
 
“O que você vê na tela pode não ser aquilo que realmente é, então quem estiver aqui vai ver a situação real. Quem estiver assistindo em Buenos Aires vai ver só o que a personagem quer mostrar. E o mesmo vai acontecer com Ulises”, conclui Milena.

Juliete Lunkes. Noticias do Dia. 10/10/2014


Peça em cartaz na Capital é encenada simultaneamente em três países

Texto escrito por Marco Antonio de La Parra fala sobre as dificuldades de comunicação
 
Só depois que se compra o ingresso, sabe-se onde será a peça de teatro Odiseo.com. Os espectadores, restritos a 15 por sessão, recebem um e-mail com o endereço e as orientações sobre o local da apresentação. Trata-se da sala de um apartamento em Florianópolis com cadeiras para acomodar o público.
 
Na residência, que transita entre o real e a própria representação, mora Elisa, interpretada por Milena Moraes, atriz que ficou conhecida pelo espetáculo Kassandra, encenado em locais não convencionais. Ela passeia pelo espaço e, mesmo que os espectadores não possam vê-la, escutam-na se mover pelos cômodos, tomando água ou usando o banheiro.
 
Essa realidade palpável logo é agitada pela relação virtual com Ulises, um executivo argentino casado e bem-sucedido que não quer voltar para casa em Santiago, no Chile. O personagem vivido por Juan Lepore está em Buenos Aires e conversa com a amante por Skype, WhatsApp, Twitter e Facebook. Os espectadores testemunham os diálogos em uma televisão na sala de Elisa.
 
Na capital argentina, a plateia acompanha a trama no teatro, de maneira invertida: é ela quem aparece na TV disposta no palco, em um cenário que reproduz um quarto de hotel. Existe ainda um terceiro espaço, variável, que é escolhido e montado com base nas possibilidades da atriz Amalia Kassai – que vive Laura, a mulher do protagonista, e atualmente está em Berlim, na Alemanha.
 
O que ajudou na complexa elaboração do espetáculo foi o fato de os atores não se conhecerem, fazendo todos os ensaios virtualmente. Nesse sentido, os papeis foram construídos simultaneamente à criação das cenas e das relações virtuais entre eles.
 
Mostrar e esconder
 
O texto do psicanalista chileno Marco Antonio de La Parra é interpretado basicamente em espanhol, com algumas partes em português. Quem não tem conhecimento de alguma das línguas consegue acompanhar a trama graças à clareza das intenções e ações dos personagens.
 
O detalhe dos idiomas reforça a reflexão sobre a comunicação nos dias atuais: até que ponto a internet aproxima as pessoas ou facilita o contato com o que há de mais verdadeiro no outro?
 
— A maior dificuldade do projeto tem a ver com construir a intensidade quando se está mediado pela conexão virtual. O trabalho dos atores em cada lugar teve de buscar elementos para que dar intensidade ao público que compartilha a cena e para outro que está em outro país - explica o diretor André Luiz Carreira.
 
Segundo Milena, a interferência audiovisual também exige dos atores uma edição:
 
— A plateia de Buenos Aires vai ver o que quero que ela veja de fato. Não estou na frente da câmera o tempo inteiro. Temos de trabalhar com o que se mostra e o que se esconde. Posso estar falando com o Juan, mas fazendo uma coisa completamente diferente. O público daqui sabe, mas o de lá, não.

Layse Ventura. Diario Caterinense. 09/10/2014


Ulises en el mundo virtual

El chileno Marco Antonio de la Parra presenta su Odiseo.com. El dramaturgo define a su protagonista masculino como “un triunfador atrapado en su propio éxito, un empresario que va de un continente a otro y se desgasta mientras pasa por esos ‘no lugares’ a los que termina habituándose”.
 
Los efectos de la simultaneidad tecnológica, el vértigo informático y los riesgos a los que se exponen las relaciones mantenidas a la distancia son la materia textual sobre la que trabaja Odisea.com, la última obra del dramaturgo y psicoanalista chileno Marco Antonio de la Parra. Se trata de un texto escrito especialmente para concretar un espectáculo basado en el uso de la tecnología digital, realizado en tiempo real, en tres ciudades simultáneamente: Santiago, de Chile, Buenos Aires y Florianópolis. La obra, que despliega los encuentros y desencuentros sentimentales y sexuales que mantiene un alto ejecutivo de una multinacional con su esposa y su amante, propone un desarrollo singular ya que el protagonista utiliza los diversos medios de comunicación digital para responder a los requerimientos de sus parejas. Como el Ulises de La Odisea, el protagonista encuentra permanentes dificultades para regresar al lugar desde donde partió, retenido por lo que él considera sus obligaciones y, en parte, por las propuestas que recibe de un amor que encontró en algún punto de su intrincado itinerario. “Quería reescribir una vez más La Odisea, uno de mis textos favoritos”, explica el dramaturgo en una entrevista con Página/12, antes de uno de los ensayos. Así, aprovechó la propuesta que le hicieron el director Carlos Ianni, responsable del Celcit, y el director brasileño André Carreira, ambos con planes de realizar una experiencia utilizando la tecnología de la comunicación. Dirigido por Carreira, el espectáculo resultante se estrenará el 5 de octubre en el Celcit (Moreno 431) con la actuación de Juan Lepore, Amalia Kassai, desde Santiago, y Milena Moraes, desde Florianópolis.
 
De la Parra define a su protagonista masculino como “un triunfador atrapado en su propio éxito, un empresario que pasa de un continente a otro, de un huso horario a otro, que se va desgastando mientras pasa por esos ‘no lugares’ a los que termina acostumbrándose”. El dramaturgo utiliza la categoría que impuso el antropólogo francés Marc Augé para referirse a los lugares impersonales que transita el protagonista en su derrotero, en vistas de que “todos los hoteles, los aeropuertos y las limusinas terminan siendo el mismo lugar”, según subraya. De las relaciones que este Ulises mantiene explica: “Ese encuentro que quiere producir es una utopía porque no sucede nunca. Las tecnologías son una prótesis respecto del contacto humano y, como tal, no permiten el contacto sino que están allí como su simulacro”, analiza.
 
–¿En qué medida utiliza los medios digitales en su vida cotidiana?
 
–La tecnología de la información cambió el mundo radicalmente y defiendo su uso, siempre que no discapaciten para las relaciones que no sean virtuales. Twitter es una joyita, permite leer los diarios con una velocidad antes impensada. En cambio no uso Facebook porque requiere mucho tiempo para mantenerlo al día y además no me gusta el nivel de exposición al que te obliga. El Skype también es de mucha utilidad, aunque no se puede interpretar lo que le sucede al otro porque no hay un contacto directo con su mirada. Aún estamos ciegos con Skype. De todas maneras, no hay forma de replicar el contacto piel a piel: sigue siendo un imposible replicar a la distancia el abrazo de dos amantes o el contacto que tienen una madre y su hijo. Los grandes negocios se hacen todavía mirándose a los ojos, porque las máquinas son capaces de ocultar la mentira.
 
–En su historia el protagonista no comprende que existe el peligro de quedarse sin ninguno de sus dos amores...
 
–Es que las tecnologías dan la ilusión de que se puede superar toda distancia, que la simultaneidad es posible, que no hay limitaciones y que el fracaso es imposible.
 
–En estos días está dictando un seminario sobre dramaturgia y neurociencias. ¿En qué punto ambas disciplinas entran en contacto?
 
–Los hallazgos de las neurociencias son sorprendentes. Hace años que trabajo para desarrollar una suerte de neurociencia o neuropoética teatral. Al trabajar sobre ideas e imágenes, teniendo en cuenta ciertas reglas que la neuropsicología aplicó a las artes plásticas es posible escribir una dramaturgia que vaya directo al punto de la experiencia emocional. Y que el dramaturgo desarrolle un funcionamiento perceptual para alcanzar una contundencia dramatúrgica que haga posible que el espectador abra su cerebro, se “despierte” y pueda experimentar belleza. El sueño también es un elemento muy importante.
 
–¿Y cómo entra el sueño en estas experiencias dramatúrgicas?
 
–El sueño nos hace crear realidades a través de imágenes, fundamentalmente. Es la actividad donde todos se convierten en creadores y artistas. Hace años que persigo la creación de una gramática de los sueños. Los he analizado no desde sus símbolos sino desde su estructura, como posibles obras de arte. Los sueños, tienen, además, una cualidad que el teatro siempre quiere para sí. Porque son un espacio donde nadie se aburre.

Cecilia Hopkins. Página 12. 26/09/2014


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